Quando segredos são passarinhados por aqueles que veem tudo de uma lonjura medida com sabedoria, a escuta abre fechaduras de um sagrado céu azul de dentro. Em alguns momentos, os bicos carregam sementes, outrora galhos de alecrins, mas sempre se encarregam de nos presentear com pedaços dos algodões que velejam no céu, antes mesmo do despencar dessa brancura, transformada em transparências e liquidada em gotículas de chuva.
E assim, certo, errado e em múltiplas tantas ocasiões chamadas dia, um passarinho, outro passarinho e uma passarinhada entregou-me pouco a pouco algumas de suas semeaduras. Em um primeiro estranhamento, abri devagar a palma da mão direita e recebi alguns pequenos grãos de vida. Achei belo o gesto, mas o fundo da gaveta fez-se prisão ao invés de chão.
Numa segunda vez, o voo era frondoso, trazendo ramos floridos e ousando uma dança sedutora ao meu redor. Admirei a dança, me rendi à sedução e caminhei um tanto para não perder o pássaro de vista. Ele parece ter gostado de ser admirado e soltou sobre minhas duas mãos aquele ramo, com pétalas luminosas nas pontas. Dessa visita, acordei para as reminiscências da gaveta. Desengavetei. Aqueles pequenos grãos de outrora estavam diante minhas mãos e se destinavam a uma cova profunda que abri com meus dedos, unhas cravadas no chão.
No início era duro, tenso, pesado. Com o atrito forte e insistente, a terra era agora afofada, um abrigo convidativo para as pequenas sementes.
Uma terceira visita, silenciosa, sorrateira e cuidadosa. Dessa vez a janela estava aberta e meus olhos vislumbravam o florescer daquele pequeno grande jardim. O passaredo pousou singelo no parapeito. O segredo semeou-se nas covas abertas do meu peito, revolvidas pelo tempo. As sementes só podiam ter vindo daqueles pedaços esvoaçantes de algodão. Era semeadura de palavras, virei sementeira de poesia!
Ele voou, voou, voou e assim fiquei florescendo pelas mamas, pelo útero, pelas tramas… atravessei em flor, em cor, em ser.
E assim agradeço, a cada ser da terra, água, fogo e ar, de agora e outrora, que estiveram e estão comigo nessas e outras travessias.
Sobre a autora
Pâmela Raizia, nasceu em 1990, em Rio Verde-GO. Poetisa, mestre em artes da cena pela Unicamp, entre muitas andanças vive em Campinas-SP e carrega de sua caminhada a arte da poesia. É água doce em fluxo contínuo, para transbordar no terreiro suas artesanias. No verso, procura as costas, as cicatrizes, ranhuras guardadas naquele murmurinho quase silencioso. Se delicia sob o céu e acorda suas raizes mais profundas, que proseiam em seu gesto escrevente, aquilo que no fundo quer e precisa contar - rasga covas profundas e desabrocha em sonhos, tocando as estrelas.
Sobre a ilustradora
Day Rizzo nasceu em 1990 em Campinas, onde vive e trabalha. Desde muito pequena é apaixonada por arte e foi através do brincar que descobriu e desenvolveu a sua habilidade para desenhar. Percorreu diversos caminhos, a maioria deles dentro do viés artístico e alguns dentro da ciência. Sempre amou teatro, artes visuais, música e dança.
Dados técnicos
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